Paciente esperou por mais de 15h para ser atendido em hospital municipal.
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Um idoso de 74 anos morreu após negligência médica na tarde deste domingo (5), no município de Portel, na Ilha do Marajó, no Pará. Isaías Batista de Oliveira chegou ao Hospital Municipal de Portel por volta de 22h30 de sábado (4), sentindo fortes dores, inchaço e distensão abdominal. Morador da comunidade Santo Amaro, distante cerca de 3h de barco do município de Portel, o idoso foi levado por uma ambulancha do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) à instituição de saúde, mas até a manhã do dia seguinte não havia recebido atendimento médico.
De acordo com informações de testemunhas, no momento da chegada do paciente o médico responsável pelo centro de saúde não estava presente. O idoso, ainda em agonia, permaneceu em uma sala improvisada à espera de auxílio médico. Após queixas de familiares do idoso, o profissional de saúde, por telefone, encaminhou, por volta de 1h da madrugada, uma medicação para amenizar as dores do paciente, mas se recusava a ir ao hospital atender o paciente durante a madrugada. O médico só chegou à instituição de saúde pela manhã, mas ainda assim não atendeu a nenhum dos pacientes que o aguardavam, incluindo seu Isaías.
Pela manhã, familiares do idoso, desesperados diante do descaso com seu Isaías, que padecia sem amparo nenhum, foram até a residência do vice-prefeito de Portel, Evandro Santos, que também é médico, pedir intervenção e ajuda para o caso. "Eu fui até o hospital. Chegando lá, pedi para uma enfermeira para chamá-lo. Aí ele já veio com a maior ignorância dizer que eu não podia entrar lá, que o paciente tinha que aguardar o atendimento. Eu respondi que tinha autoridade para entrar em qualquer lugar de Portel, visto que sou o vice-prefeito, mas que eu não estava pedindo apenas que ele fosse atender o paciente, que era obrigação dele como servidor público. O paciente é um ser humano, o médico precisa atender o paciente. Ele não foi e respondeu novamente que deveríamos aguardar do lado de fora", detalhou o vice-prefeito de Portel.
O paciente Isaías, os familiares dele e o vice-prefeito do município continuaram aguardando por mais de uma hora e o atendimento médico não foi realizado. Era por volta de 11h da manhã, segundo testemunhas, quando a equipe de profissionais de saúde resolveu, enfim, providenciar uma maca para o paciente, que já se contorcia de dores intensas há quase 15 horas seguidas, sem ajuda.
No começo da tarde, o prefeito da cidade, Manoel Oliveira dos Santos. O prefeito, então, foi conversar com o médico, para entender a confusão generalizada que havia se instalado na instituição de saúde após a recusa em atender os pacientes, muitos em estado grave, como seu Isaías. O médico novamente reiterou que todos deveriam aguardar a vez e que "ninguém mandava nele e não foi atender os pacientes, ele simplesmente se trancou lá dentro e não foi atender ninguém", contou o vice-prefeito.
De acordo com relatos de testemunhas, médico e prefeito ainda ficaram por mais uma hora discutindo sobre a situação desesperadora dos pacientes, mas, durante esse período, nada foi feito para atenuar o sofrimento da população aguardava na recepção do hospital. Havia pacientes com o braço quebrado, gestantes em trabalho de parto, idosos com mais de 90 anos esperando por ajuda. Ninguém foi atendido.
De tarde, por volta de 16h, o paciente Isaías Batista, que seria encaminhado para outra instituição de saúde, faleceu - após quase 20 horas de martírio, desmazelo, escárnio. "Tenho certeza que a demora no atendimento contribuiu para a morte deste senhor", lamentou o vice-prefeito de Portel.
A redação integrada do jornal O Liberal ainda não conseguiu contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Portel. Em breve outras atualizações.
Fonte: O Liberal